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27/06/17 às 11h38 - Atualizado em 30/10/18 às 11h16

Creche na Estrutural é pioneira em energia solar de baixo custo no DF

Você deve saber

Do G1

Painéis de captação são feitos de garrafas pet e caixas de leite. Engenharia sustentável garante 30% de redução na conta de energia, dizem desenvolvedores

 

Uma creche localizada na Cidade Estrutural sustenta, no telhado, o primeiro aquecedor solar de baixo custo do Distrito Federal. Montados há cerca de um mês, dois painéis – feitos de material reciclado – ajudaram a Creche Alecrim a economizar cerca de R$ 100 por mês. 

 

De acordo com o idealizador do projeto, Hélio Guilherme Silva, os equipamentos têm capacidade para gerar uma economia de 30% na conta de energia. A instituição, criada há oito anos, se mantém à base de doações e “gambiarras”, segundo a fundadora Maria de Jesus Sousa.

Custeado pela empresa Now Go, o projeto foi reconhecido como o maior do Centro-Oeste pela empresa júnior de engenharia de energia da UnB, Matriz — que desenvolveu e instalou os painéis. Batizado com o nome da creche, o “Alecrim Solar” será expandido para toda a comunidade, que é de baixa renda, em cerca de três meses, segundo Silva.

A lógica da engrenagem é simples. Feitos com 350 garrafas pet transparentes, caixas de leite pintadas de preto e canos de PVC, os painéis foram instalados no meio do percurso entre a água que chega da Caesb e as torneiras da creche.

A água fica armazenada nas garrafas, onde é aquecida pela luz solar absorvida pela cor preta das caixas. Como são dois painéis, o processo de aquecimento se repete e a água chega aos chuveiros com quase o dobro da temperatura ambiente.

“No primeiro teste, o termômetro marcou 41ºC. Isso porque era de manhã. À tarde ficou ainda mais quente, chegava a sair fumaça. A gente tinha que misturar com a água fria”, disse o administrador Wenceslau Gomes, que é marido de Maria de Jesus.

Como os aquecedores ainda estão em fase teste, a creche não montou estrutura para armazenar a água quente, usando a própria capacidade do equipamento para manter o recurso estocado. A ideia, no entanto, é instalar duas novas caixas d’água assim que os painéis estiverem em pleno funcionamento.

Uma ficará mais elevada, no telhado, para acumular a água vinda da Caesb e direcioná-la para os painéis. A outra servirá exclusivamente para reservar a água aquecida. Esta ficará dentro da creche, isolada por material térmico, que garante a manutenção da temperatura por 48h, segundo Gomes.

Além da água aquecida, a creche também aproveita a chuva para fazer limpeza. A estrutura de captação foi montada pelo próprio Wenceslau – que faz a “engenharia” de encanamentos da creche. A água cai sobre as telhas, passa pelas calhas e cai diretamente em um tonel, que fica no centro da creche.

Segundo o administrador, o reaproveitamento fez-se necessário com o racionamento hídrico no DF. “Aqui na Estrutural, racionamento acontece todo dia, quando a água chega às 2h30 e é cortada às 10h.”

Debaixo do telhado

Fundada há oito anos na região conhecida como Santa Luzia, na Estrutural – considerada uma favela –, hoje a Creche Alecrim atende cerca de 90 crianças no Setor de Oficinas. De segunda à sexta-feira, das 8h às 17h, voluntários desenvolvem atividades educativas e de lazer e ajudam na cozinha, limpeza e administração.

“A gente faz tudo no improviso. Não é profissional, mas tenta dar o melhor, com muito amor”, disse a fundadora da creche, Maria de Jesus de Sousa, que também é mulher de Wenceslau Gomes.

A única profissional especializada da creche é uma psicóloga que atende as famílias aos sábados. Segundo Maria, como ela também tem formação em pedagogia, prepara práticas de ensino e orienta outras voluntárias a aplicá-las durante a semana.

A instituição oferece quatro refeições por dia, preparadas pela própria equipe ou doadas por padarias e restaurantes parceiros. Uma das voluntárias, Cristina Pedra, é responsável pelo curso de culinária “Mão na Massa”, que ensina a fazer pães, bolos, biscoitos e pizzas “com o que tiver nos armários”.

A oficina também é desenvolvida em outras instituições sociais do DF. “O que sobra, a gente manda pras crianças levarem pra casa. É lá que o 'bicho pega'. Tem criança que passa fome mesmo. Só come quando vem pra cá”, disse Maria.

Os cursos de cozinha também garantem retorno financeiro à instituição, que vende a produção para pagar as contas de luz, água, energia, remédios e alimentação especial – 25 crianças são intolerantes à lactose.

O começo

Antes de abrir a creche – dentro da própria casa – Maria de Jesus, foi catadora do lixão da Estrutural. Na época, há cerca de oito anos, a primeira filha dela nasceu com uma deficiência no coração e precisou ser operada na rede privada de saúde. “Meu marido tinha acabado de morrer de infarto e eu estava sozinha, sem ter de onde tirar dinheiro. Fui pro lixão.”

Segundo Maria, em oito dias ela conseguiu juntar R$ 6 mil com a ajuda de “todos os catadores”, que se sensibilizaram com a história dela – que carregava a menina no colo em meio às montanhas de lixo.

Depois da cirurgia, quando a filha estava em casa se recuperando, Maria começou a cuidar dos filhos de amigas que trabalhavam e não tinham creches onde deixá-los. “Foi assim que tomei gosto pela coisa e comecei a creche dentro da minha casa.”

O atual marido, Wenceslau, era farmacêutico quando conheceu Maria de Jesus e abriu mão da vida detrás dos balcões para ajudar as crianças. “Quando a conheci, ela disse que precisava de ajuda. Em pouco tempo, percebi que ou entrava de cabeça, ou podia ir embora.”

Painéis de aquecimento solar com garrafas pet é usado por creche na Estrutural para aquecer chuveiros. Foto: Luiza Garonce/G1.